quinta-feira, 2 de junho de 2011

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24. "Língua Portuguesa"

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Olavo Bilac, in Poesias

segunda-feira, 2 de maio de 2011

23. "um dizer ainda puro"

imagino que sobre nós virá um céu
de espuma e que, de sol em sol,
uma nova língua nos fará dizer
o que a poeira da nossa boca adiada
soterrou já para lá da mão possível
onde cinzentos abandonamos a flor.


dizes: põe nos meus os teus dedos
e passemos os séculos sem rosto,
apaguemos de nossas casas o barulho
do tempo que ardeu sem luz.
sim, cria comigo esse silêncio
que nos faz nus e em nós acende
o lume das árvores de fruto.

diz-me que há ainda versos por escrever,
que sobra no mundo um dizer ainda puro.

Vasco Gato, Um Mover de Mão, Assírio & Alvim, 2000.

domingo, 1 de maio de 2011

22. "Aqui e agora"

Passei,transi ou fui ? Transfui que trans ?
Cis quê ? Prefixo a que destino imoto ?
Movido de que prós ou forças vãs,
Para que inércia ou paz de quid ignoto ?


Eunte a que vindoiro alvo remoto ?
Essente quê ? nihil no adverso mas
Que oponho ao ser, se o espírito derroto
(Meu,que o divino é em altas barbacãs).



Tudo é cá tempo em espaço pervertido :
Ontem que abre amanhã no instante ardente
E se fecha no nunca humano havido


Para sempre ficar como jamais
Agora e aqui eu mesmo, - ermos sinais
De que Deus me povoa e me consente.




Vitorino Nemésio, O Verbo e a Morte, 1959

21. "Levad', amigo, que dormides as manhanas frías"

Levad', amigo, que dormides as manhanas frías;
toda-las aves do mundo d'amor dizían.
Leda m'and'eu.

Levad', amigo, que dormide-las frías manhanas;
toda-las aves do mundo d'amor cantavan.
Leda m'and'eu.

Toda-las aves do mundo d'amor dizían;
do meu amor e do voss'en ment'havían.
Leda m'and'eu.

Toda-las aves do mundo d'amor cantavan;
do meu amor e do voss'i enmentavan.
Leda m'and'eu.

Do meu amor e do voss'en ment'havían;
vós lhi tolhestes os ramos en que siían.
Leda m'and'eu.

Do meu amor e do voss'i enmentavan;
vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan.
Leda m'and'eu.



Vós lhi tolhestes os ramos en que siíane
lhis secastes as fontes en que bevían.
Leda m'and'eu.

Vós lhi tolhestes os ramos en que pousava
ne lhis secastes as fontes u se banhavan.
Leda m'and'eu.


Nuno Fernandes Torneol

sexta-feira, 29 de abril de 2011

20. "Em todos os jardins hei-de florir"


19. "Senhora, partem tão tristes"


18. "Para ser grande, sê inteiro: nada"


17. "Tocata"


16. "Soror Mariana"


15. "Pelo sonho é que vamos"


14. "O boi da paciência"


13. "as primeiras coisas eram verdes ou azuis"


12. "Portugal"

11. "Um Adeus Português"


10. "Só males são reais, só dor existe"


9. "A fermosura desta fresca serra"


8. "Um mover d'olhos, brando e piadoso"


7. "Amor é fogo que arde sem se ver"


6. "É urgente o amor"


5. "Homem das Cidades"


4. "António Vieira"


3. "Toda a noite a luz multiplicou"

2. "O Erros"

1. "Logos"